Depois de três meses em uma intensa batalha contra o Coronavírus, a China não registrou novas transmissões locais durante 5 dias, com novos casos sendo detectados apenas em pessoas vindas do exterior.
Desde dezembro de 2019, o país foi o epicentro mundial da pandemia, com cerca de 81 mil infectados e mais de 3.200 mortos. Agora, as paralisações para a prevenção contra o COVID-19 está levando outros países para a crise e a pergunta que fica é: como a China está conseguindo controlar a disseminação do vírus
Medidas rígidas para tempos difíceis
O que inicialmente parecia exagero, se provou eficaz para evitar mais contaminação. As quarentenas, por exemplo, impostas em toda província de Hubei, incluindo a capital Wuhan, foram inicialmente criticadas por países europeus, porém agora são adotadas em todo o planeta, inclusive no Brasil.
A construção emergencial de dois grandes hospitais, que ficaram prontos em uma velocidade incrível, também se mostrou necessária e bem sucedida. E, em seguida, iniciaram-se os testes em larga escala, trazendo precisão no número de infectados para tomar melhores e mais rápidas decisões.
O professor Evandro Menezes de Carvalho, docente de Direito Internacional e coordenador do Núcleo de Estudos Brasil-China da FGV Direito Rio, em entrevista para o Globo, explica que toda a agilidade e eficácia das ações se deu por conta do modelo político-governamental da China.
Sendo um Estado unitário com mecanismos de controle social, as decisões são colocadas em prática de forma rápida e ampla, com participação da sociedade na organização e vigilância do cumprimento das medidas do governo.
Em Wuhan, há um verdadeiro exército de voluntários dos comitês de bairro, que zelam pelo estrito cumprimento das medidas de confinamento e transmitem as ordens do governo às residências. Há também barreiras em cada bairro da cidade, e qualquer pessoa que queira ultrapassar estas barreiras passa por controles sanitários e por uma medição de temperatura para voltar para casa, como explica a Carta Capital.
Recuperação da Economia
Ao mesmo tempo que vê suas taxas de infecção e mortalidade caírem bruscamente, os chineses também já sentem a recuperação da economia. É o caso da Xiaomi, gigante na venda de smartphones.
“O mercado (chinês) entrou em uma fase de recuperação completa e já se recuperou de 80% a 90% do nível normal”, disse o vice-presidente financeiro Shou Zi Chew em teleconferência.
Para Chew, a demanda por smartphones deve se manter em todo mundo, mesmo com a pandemia atingindo outros países. Ele explica que haverá um impacto nas vendas globais durante março e abril, mas espera ver sinais de recuperação em maio.
As atividades industriais e de serviço também se recuperam mais do que o esperado para março. Esses dados são provenientes dos Índices de Gerentes de Compras (PMIs), e refletem a atividade de empresas que reabriram após o longo fechamento pelo coronavírus.
“Continuamos a acreditar em uma recuperação econômica liderada pela China e esse processo está em suas fases iniciais e deve ampliar ajudado por alguma demanda reprimida do consumidor”, afirmou Sebastien Galy, macro-estrategista sênior da Nordea Asset Management, à agência de notícias Dow Jones.
O PMI do setor industrial chinês subiu de 35,76 pontos em fevereiro para 52 pontos em março. Já o PMI do setor de serviços avançou de 29,6 para 52,3 entre os dois períodos, o que representa um alívio para toda a economia global.
Cuidado contínuo
“No ano que vem, você pode ter novos casos acontecendo. A expectativa é essa, que o vírus não desapareça, mas que haja ondas sempre menores, com menor letalidade. É a trajetória natural da doença”, explicou ao Globo o infectologista Alberto Chebabo, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Por isso, apesar das notícias positivas sobre a baixa de infecções na China, os procedimentos precisam continuar até a real finalização da pandemia. As transmissões comunitárias podem voltar a acontecer, especialmente, as “importadas”, como já falamos acima.
Com a continuidade das medidas do governo chinês, caso ocorram novos casos de infecção, é provável que isso se torne apenas local e não se espalhe mais pelo país. Dessa forma, o que se mostrou uma grande ameaça passa a ser controlada e, aos poucos, as engrenagens do mundo voltam a trabalhar em seu ritmo normal.
Leia mais:
Fontes: G1, Valor Investe, Carta Capital, O Globo.
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