A demanda do transporte marítimo é estritamente conectada à performance da economia mundial. Nos últimos seis anos seguidos, a demanda global de mercadorias está abaixo da oferta de capacidade de frotas de navios, como indica a figura abaixo.
Fonte: Alphaliner, 2016
Em reflexo desse cenário, o mercado marítimo sofreu uma de suas maiores crises da história, com um mercado com excesso de capacidade, baixa demanda de cargas e baixo preço dos fretes, colocaram as operadoras marítimas em dificuldades financeiras por um longo período. A perda operacional coletiva reportada pelo mercado de transporte de contêineres só em 2016 totalizou US $ 3,5 bilhões, segundo a United Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD.
Um grande fator para a recuperação e desenvolvimento que moldou o setor de transporte de contêineres, foi uma maior consolidação entre as empresas. Após o surgimento de mega navios, a indústria testemunhou o advento de mega alianças, as novas fusões e aquisições. Em abril de 2017, as três alianças principais, a Aliança, Ocean Alliance e 2M, atuaram com uma frota total de 15,862.743 TEUs, representando pelo menos 76,6% do mercado operacional.Além das novas alianças formadas, observou-se em 2016 e 2017 a saída de 6 das 20 grandes companhias marítimas: fusão da China Shipping com a Cosco, a “Cosco Shipping” (Fevereiro de 2016); a aquisição da APL pela CMA CGM (Junho, 2016); a “quebra” da Hanjin (Setembro, 2016); a intenção da Maersk Line de adquirir a Hamburg Süd (Dezembro de 2016); incorporação da UASC na Hapag-Lloyd (Julho de 2017); e a joint venture proposta entre “K” Line, MOL e NYK em formação da “ONE” (setembro de 2017).
Segundo as pesquisas da Alphaliner, o transporte marítimo de containers cresceu mais de 6% em 2017 considerando as principais rotas globais. Um crescimento suficiente para recuperar ao menos a metade das perdas dos últimos 4 anos. Dos doze maiores armadores do mundo na atualidade, somente dois tiveram déficit no ano de 2017.
Como esse cenário reflete no Brasil
No ano de 2017, o Brasil representou apenas 1% da movimentação mundial de contêineres, enquanto a China e os Estados Unidos foram responsáveis por 35%. É notória que a maior movimentação de cargas ocorreu entre as trades da Ásia, Europa e América do Norte, conforme demonstra o quadro a seguir:
Fonte: Portonave, 2018
A escolha dos armadores por navios maiores em busca da redução dos custos operacionais impactam diretamente na redução de navios que trafegam a costa brasileira. O número de serviços de navegação de longo curso em águas brasileiras caiu mais da metade entre dezembro de 2010 e novembro de 2017, reduzindo de 39 para 17. Observa-se na figura abaixo essa redução nos portos de Santos e do Sul de longo curso.
Fonte: Portonave, 2018
Em contrapartida à decadência da oferta de escalas semanais de atracações de navios na costa brasileira, o volume de movimentação de cargas no Brasil cresceu em 2017, quase atingindo a sua melhor performance como foi em 2014, recuperando a queda de 2015 e 2016, conforme mostra a ilustração a seguir.
Fonte: Portonave, 2018
A baixa demanda global de mercadorias combinada com a baixa a recessão econômica no Brasil e a entrada de novos e grandes navios acima dos 20.000 TEUs (atualmente na costa brasileira se operam navios de 9.500 TEUs, mas a projeção para os próximos quatro ou cinco anos, operarão com capacidade de até 14.000 TEUs) resultou numa baixa generalizada de fretes, a exemplo um frete de Shangai para Santos em 2009 era em média de US$ 2.429 por TEU, chegou à incríveis US$ 455 em 2015.
Desde abril de 2016 os exportadores brasileiros veem sentido o aumento do preço do frete internacional marítimo para os principais mercados do mundo. Um dos motivos apontados pelos armadores é o custo adicional para posicionar os contêineres vazios para atender as exportações do Brasil, pois as importações que supostamente pagavam a viagem até o Brasil, em 2015 implodiu com a crise do país (um frete da China passou a custar US$25,00/Teu no início do ano de 2016). Isso, aliado à retirada de espaço nas linhas e escalas para ajustar a oferta e demanda nos navios, e o crescimento das exportações (como resultado da apreciação do dólar e retomada da economia), permitiu então o reajuste do preço do frete.
Segundo Julian Thomas, diretor-superintendente da Hamburg Süd, líder nos tráfegos no Brasil, entre o fim de 2010 até o início de 2016, o valor médio dos fretes de exportação do Brasil para todos os destinos caiu entre 40% a 50%, justificando o aumento dos fretes diante de tal cenário. O frete marítimo para o produto madeira a exemplo, entre abril de 2016 a outubro de 2017, teve um de aumento de 70% para os EUA, 187% para a Europa e 129% para a Ásia.
Referências:
ALPHALINER. Monthly Monitor. 2018. Disponível em: https://www.alphaliner.com /resources/ Alphaliner_Monthly_Monitor.pdf. Último acesso: 24/03/2018
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO TRANSPORTE – CNT. Portos Marítimos: Longo Curso e Cabotagem. Brasília: Confederação Nacional do Transporte, 2006.
DONATO, Kamila. As mudanças dos TOP 25 da navegação mundial. 2017. Disponível em: http://www.guiamaritimo.com.br/noticias/maritimo/as-mudancas-dos-top-25-da-navegacao-mundial. Último acesso: 24/03/2018
GRANTHAM, Robert. Armadores: alianças e fusões – qual o impacto no Brasil? 2017. Disponível em: https://www.portosenavios.com.br/noticias/artigos-de-opiniao/38953-armadores-aliancas-e-fusoes-qual-o-impacto-no-brasil . Último acesso: 24/03/2018
OPINIÃO & NOTÍCIA. Crise afeta setor de transporte marítimo de carga. 2016. Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br/economia/crise-afeta-setor-de-transporte-maritimo-de-carga Último acesso: 24/03/2018
PIRES, Fernanda. Embarcações reduzem quantidade de escalas no Brasil. 2018. Disponível em:http://www.valor.com.br/empresas/5243259/embarcacoes-reduzem-quantidade-de-escalas -no-brasil. Último acesso: 07/04/2018
PORTONAVE. A atuação dos grandes armadores nos portos brasileiros. 2018. Congresso Meeting Comex – ACIJ Joinville. 18/04/2018
PORTOS E NAVIOS. Armadores reajustam frete para recuperar margem. 2016. Disponível em: https://www.portosenavios.com.br/noticias/navegacao-e-marinha/34147-armadores-reajustam-frete-para-recuperar-margem. Último acesso: 07/04/2018.
ROYAL CARGO DO BRASIL. Mercado Mundial Marítimo 2017 e 2018. 2018. Disponível em: http://www.royalcargo.com.br/blog/2018/02/21/mercado-mundial-maritimo-2017-e-2018/ Último acesso: 24/03/2018
SANCHEZ, Ricardo J. The puzzle of Shipping Alliances in April 2017. 2017. Disponível em: http://www.porteconomics.eu/2017/04/20/the-puzzle-of-shipping-alliances-in-july-2016. Último acesso: 24/03/2018
UNCTAD. Review of Martitime Transport. 2017. Disponível em: http://unctad.org/en/PublicationsLibrary/rmt2017_en.pdf. Último acesso: 24/03/2018
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